Oklahoma
1.01 - Pilot

BOATE – INT./NOITE

Música de Fundo: Time to Pretend por MGMT

Uma festa agitada. Música alta e pessoas dançando. Muito barulho.

Sequência de imagens: Pessoas dançando. DJ agitando; Pessoas cheirando cocaína; Pessoas fumando Crack; Pessoas dançando.

BOATE – EXT./NOITE

Música de Fundo: Time to Pretend por MGMT

Uma MOÇA sai da boate por uma porta nos fundos. Ela procura algo na bolsa. Finalmente ela encontra o CELULAR dentro da bolsa. Ele toca. Ela atende.

MOÇA (no celular): Oi? Sou eu. (breve pausa) Não. (pausa) Eu já disse que não. Pode deixar. Eu já estou indo. (pausa) Você não quer discutir agora. (pausa) Estou com umas amigas numa boate. (pausa) Ta. Já estou indo. Eu disse que já estou indo. Não precisa gritar. (breve pausa) Vai continuar gritando?

Ela desliga.

MOÇA: Idiota.

O celular toca de novo. Ela atende.

MOÇA (no celular): Oi. (pausa) Já disse que estou indo. Coisa chata.

Ela desliga novamente.

Música Pára.

IMAGEM ESCURECE

RUA – EXT./NOITE

A Moça caminha por um beco escuro. Ela chora. Cambaleia solitária. A Moça pára e encosta-se numa mureta. Ela limpa as lágrimas. A Moça pega o celular na bolsa. Ela disca e aguarda.

MOÇA (no celular): Olá. Como vai? (breve pausa) então, queria saber se aquela sua proposta ainda está de pé?

IMAGEM ESCURECE

IMAGEM REABRE

PRÉDIO – EXT./NOITE

A Moça está no terraço de um prédio de dez andares. Ela está parada no parapeito do terraço. Ela segura o celular e fuma um cigarro. Seu celular vibra. Ela observa e percebe uma nova mensagem de texto. Ela lê. Ela sorri. Ela deleta a mensagem e põe o celular no bolso da jaqueta que esta usando. Ela respira fundo e pula.

IMAGEM ESCURECE

IMAGEM REABRE

RUA – EXT./NOITE

De cima vemos a Moça caída no chão. Há bastante sangue no local. Ela está morta.

A imagem fica totalmente branca rapidamente, até perceber-se que se trata do FLASH de uma máquina fotográfica que June Green integrante do O.P.D. (Oklahoma Police Departament) da cidade de Oklahoma City.

Ele tira mais três fotos do cadáver da Moça que está deitada no chão sobre seu sangue.

Um homem negro aproxima-se de June, por trás. Ela vira-se, vê-lo e sorri.

JUNE: Olá, Greg.

GREG: Olá, June. Já temos identificação?

JUNE: Sim.

June pega um pequeno bloco de notas no seu bolso.

JUNE: Ela chama-se Suelen. Só tem dezessete anos.

GREG: Confirmaram suicídio?

JUNE: O pessoal está trabalhando nisso, mas já ouvi por aí que noventa e nove por cento de certeza de suicídio. Só precisam ter cem por cento.

GREG: Uma pena.

JUNE: Tão jovem, né?

Greg chega mais perto do corpo de Suelen. Ele percebe cortes profundos nos braços e no rosto dela.

GREG: Esses cortes não podem ter sido causados pelo impacto com o solo.

JUNE: Não mesmo. Olha aquilo.

June aponta para uma placa luminosa toda quebrada.

JUNE: Ao pular da altura do décimo andar ela teria se chocado com essa placa luminosa. O impacto ocasionou os ferimentos nos braços, pernas e rosto. Se puder chegar mais perto irá ver algumas queimaduras na pele também.

GREG: Sim.

JUNE: Provavelmente ela recebeu uma forte descarga elétrica ao chocar-se com a placa.

GREG: Que morte horrível teve essa garota.

JUNE: Horrível.

Dois Homens com o uniforme da O.P.D. aproximam-se de Greg e June.

JUNE(animada): Olha quem chegou!

GREG: Aaron. Will.

Aaron se abraça com June e Will cumprimenta Greg.

AARON: Já entramos em contato com a família.

WILL: Já liberaram o recolhimento do corpo para a necrópsia.

AARON: Acho que é isso, suicídio.

June olha para cima e percebe uma câmera no alto do prédio em frente ao que Suelen se jogou.

JUNE: Meninos, preciso que vão até aquele prédio e perguntem se as câmeras externas de segurança gravam. Se sim, preciso que tragam o vídeo para podermos assistir e termos certeza do que estamos falando.

AARON: Beleza.

Aaron e Will vão.

GREG: Onde está April?

JUNE: Não pôde vir. Estava fazendo relatório do caso Hasselhoff.

GREG: Claro. Que eu pedi.

JUNE: Que você pediu.

Eles sorriem.

JUNE: Chefe, avisa aos meninos que eu os encontro lá no departamento.

GREG: Certo.

June abraça Greg e sai.

DEPARTAMENTO DE OKLAHOMA – INT./NOITE

June entra em sua sala. Ela senta-se. Baixa a cabeça sobre sua mesa. A porta de sua sala abre e uma Moça entra. June ergue a cabeça.

JUNE: April!

APRIL: E aí? O que eu perdi?

JUNE: Foi um suicídio. Nada demais. Logo vão trazer o corpo, faremos a necrópsia e despachamos.

APRIL: Nossa, as vezes você parece tão fria.

June sorri.

JUNE: Eu sei. Acho que ficamos assim depois de trabalhar doze anos nesse lugar.

APRIL: Se sente cansada?

JUNE: O tempo todo. Queria ter mais tempo para sair, beber, fumar e namorar.

APRIL: Como anda o coração?

JUNE: Vazio. Só sangue e oxigênio passam por ele.

APRIL: E o Sean?

JUNE: O Sean. Desde que ele foi transferido par o departamento de Midwest City nós nunca mais nos falamos.

APRIL: Assim?

JUNE: É. Assim.

APRIL: Mas vocês se...

JUNE: Não, April. Parece que não mais. Agora mudemos de assunto. E você?

APRIL: Na mesma. Acho que vou morrer solteira.

JUNE: Fala sério. Você é uma garota bonita. Sexy. Vai arrumar alguém logo logo.

APRIL: Tenho péssimo gosto para homens. Sabe quem foi o último que eu me apaixonei?

JUNE: Harold?

APRIL: Não, depois deste.

JUNE: Você não me contou.

APRIL: Pois é. Aaron.

June cai na gargalhada. April fica séria por um momento, mas logo começa a rir.

JUNE: Aaron? Jura?

APRIL: Pois é.

JUNE: Sem chance com esse. O cara ta pensando até em casar.

APRIL: Fiquei sabendo. Por isso desisti.

A porta da sala abre e Aaron entra.

JUNE: Aaron. E aí?

AARON: Temos a fita.

JUNE: Por descargo de consciência, vamos a fita.

SALA DE VIDEO DA O.P.D. - INR./NOITE

June, Aaron e April estão sentados. Will põe a fita no vídeo e aperta o play. Eles aguardam iniciar. Will senta-se. O vídeo começa a passar.

VÍDEO: Suelen está no topo do prédio. Ela observa o celular. Põe o celular no bolso. Pula.

Will pausa.

WILL: É isso. Suicídio.

JUNE: Espera.

Todos a olham.

JUNE: Volta pra mim por favor.

Will volta a fita até o começo novamente. Ele aperta o play. As imagens começam a passar novamente até o fim. June pega o controle da mão de Will. Ela volta novamente a fita e aperta o play. Enquanto Suelen está parada no parapeito do prédio, June aperta o Zoon. Ela percebe que antes de pular Suelen sorri e fala algumas coisas.

JUNE: Ela está falando alguma coisa.

APRIL: O vídeo não tem som.

AARON: Mesmo que tivesse não poderíamos ouvir. Está distante.

WILL: Será que conseguimos decifrar o que ela falou?

JUNE: A imagem ta distante e o vídeo não ajuda, mas eu posso tentar.

APRIL: Você?

JUNE: Tirei “B” na matéria de leitura labial na minha formação acadêmica de perita.

APRIL: Tirei “B-”.

AARON: Tirei “C”.

WILL: Nem olhem para mim que eu reprovei uma vez.

JUNE: Então, sobrou para mim mesma.

June pára na frente do vídeo. Ela volta e aperta o play.

JUNE (vendo o vídeo): Estamos todos coletados. Façamos as preces e contribuiremos com nosso sangue.

Ela pausa.

JUNE: Foi isso que ela disse. “Estamos todos coletados. Façamos as preces e contribuiremos com nosso sangue.”

AARON: Não faz sentido algum.

APRIL: Espera.

April volta a fita e assiste.

APRIL: Não. Na verdade ela disse: “Estamos todos conectados. Façamos as preces e contribuiremos com nosso sangue.”

JUNE: Na verdade, acho que colei naquele teste.



SALA DE NECRÓPSIA DA O.P.D. - INT./DIA

Música de Fundo: Colder por Travis

Já amanheceu. April e Aaron estão na sala de necrópsia.

APRIL: Qual a gaveta?

AARON: Sete C.

April vai até a gaveta 7c e a abre. O corpo de Suelen está dentro. Aaron a ajuda a levá-la até a mesa de autópsia do cadáver.

APRIL: Vocês já marcaram o casamento?

Aaron a olha, surpreso.

AARON: Não. Ainda vou propôr, mas pretendemos nos casar em julho.

APRIL: Porque me olhou com essa cara?

AARON: É que você nunca me fez perguntas pessoais. Achava as vezes que você e June me excluíam.

APRIL: Bobagem sua.

AARON: Acredito que seja.

APRIL: Porque o verão?

April começa a fazer a higienização do cadáver.

AARON: Nós dois gostamos do sol. Na verdade eu gosto mais. O sol me faz bem.

APRIL: Na Califórnia?

AARON: Sim.

APRIL: Legal.

AARON: Posso fazer uma pergunta para você?

APRIL: Claro.

April continua a fazer a higienização.

AARON: Você estava a fim de mim?

April pára. Ela engole seco.

APRIL: Quem te disse isso?

AARON: June.

APRIL: Aquela vadia. Pedi pra ela não dizer nada.

AARON: Então é verdade.

APRIL: Mas eu já desencanei. Foi paixonite de garota que está saindo da adolescência.

AARON: Quantos anos tem?

APRIL: Vinte e três.

Aaron segura no queixo de April.

AARON: Você é uma garota linda. Muito linda. Não se preocupe. Vai achar o homem certo para você.

APRIL: Obrigada.

Aaron beija no rosto de April.

APRIL: Vamos começar?

AARON: Sim.

Música Pára.

April pega um bisturi. Ela respira fundo.

AARON: Sua primeira?

APRIL: Sim.

AARON: Estava na hora de começar a pegar no pesado.

APRIL: Seis meses aqui. O tempo voa.

AARON: É porque você está só começando.

April pega no cadáver e sente algo de diferente. Ela faz uma expressão de careta para Aaron.

AARON(sorrindo): Ainda nem começou.

APRIL: Tem alguma coisa nas costas dela.

April vira o corpo de Suelen e percebe um Band-Aid nas costas.

AARON: Ah! O Band-Aid está no relatório. Deve ter sido algum corte.

April passa a mão no Band-Aid e percebe que o mesmo afunda. April retira o Band-Aid e eles vêem um corte profundo naquele lugar. Não há pele no local, apenas um corte profundo.

APRIL: O que é isso?

AARON: Parece que alguém retirou a pele dela.

APRIL: E foi bem grande, porque está muito profundo.

April começa a enfiar o dedo no corte.

AARON: Quão profundo?

APRIL: Aproximadamente sete centímetros. Foi retirado uma pequena tira da pele, cerca de seis centímetros de pele e foi feita uma incisão profunda no músculo cerca de...

April pára. Ela olha assustada para Aaron.

AARON: O que? O que houve?

April enfia outro dedo no corte. Ela faz careta. April puxa os dedos e entre eles ela traz um pequeno saco plástico preto lacrado.

AARON: Alguém plantou isso antes de ela morrer.

APRIL: E o suicídio vira homicídio.

Aaron e April se entreolham.

SALA DE GREG NA O.P.D. - INT./DIA

Greg está reunido com June, April, Aaron e Will.

GREG: Ficaram sabendo que as coisas se complicaram ainda mais. Além do suposto suicídio ter se tornado homicídio, agora temos mais um agravante.

WILL: O que houve?

GREG: Foi oficialmente confirmado que a garota morta...

JUNE: Suelen.

GREG: Que Suelen é filha do chefe do departamento de Tulsa.

JUNE: Está de brincadeira comigo.

GREG: Infelizmente não. O cara está vindo para cá.

AARON: Mas chefe, não podemos deixar que familiares se envolvam no caso.

APRIL: Ele tem razão.

GREG: Sim, ele tem razão. Mas trata-se do comandante-em-chefe da corporação. Não podemos proibí-lo.

JUNE: Mantenha-no bem longe das investigações.

GREG: Farei o possível, June.

JUNE: Faça o impossível.

GREG: Porque está não nervosa?

JUNE: Você sabe que da última vez que alguém da corporação se envolveu em um caso que eu estava investigando as coisas desandaram e eu fui a culpada por aquele cretino plantar evidências.

GREG: Aquilo já foi superado.

JUNE(irritada): Porra nenhuma!

Todos a olham assustados.

JUNE: Mantenha o familiar longe da investigação da minha equipe ou estamos fora.

June sai da sala. Todos respiram fundo.

GREG: Já tem o conteúdo da evidência achada?

WILL: Não, chefe. Ainda não nos devolveram do departamento de análise terrorista.

APRIL: O Raio-X demonstrou um objeto plano dentro, mas eles quiseram confirmar que não tem nenhum explosivo ou Antrax.

GREG: Tudo bem. Quando a evidência voltar quero que me chamem para acompanhar de perto.

AARON: Sim, senhor.

SALA DE JUNE NA O.P.D. - INT./DIA

June está sentada olhando fotos do corpo de Suelen. April entra na sala.

APRIL: O que foi aquilo?

JUNE: Saí do sério.

APRIL: Não deveria. Qual é? Até eu que trabalho aqui sei que temos regras de investigações que podem ser facilmente quebradas pelos chefões deste lugar.

JUNE: Só não quero nenhum familiar me atrapalhando.

APRIL: Quem disse que ele vai atrapalhar? É a filha dele. Ele tem direito de querer acompanhar as investigações. Manteremos ele longe de tudo, apenas iremos informá-lo.

June respira fundo.

JUNE: Eu sei. Eu errei. Me desculpa.

APRIL: É. Você errou.

JUNE: É que da última vez eu quase perdi minha licença porque o pai do rapaz morto plantou uma evidência que levou até um irmão dele. Tudo plantado. No final, ele tinha matado o próprio filho. Daí ele não assumiu esse erro e eu fiquei responsável por aquela evidência plantada e tudo porque eu permiti que ele acompanhasse as investigações de perto. Ainda hoje minha ficha tem essa porcaria.

APRIL: Mas dessa vez é diferente. O cara não vai plantar evidências. Ele é comandante-em-chefe desse lugar. Quase o presidente do país.

JUNE: April, eu tenho trinta e cinco anos e sei muito bem o que digo. Quando comecei a trabalhar aqui eu tinha apenas a sua idade. Vinte e três anos. São doze anos aqui dentro. Depois de doze anos tudo muda. Sua visão do mundo muda. Sua visão das pessoas muda.

APRIL: Eu sei. É por isso que eu estou aqui. Para ser a sua pessoa.

JUNE: Promete ser minha pessoa.

APRIL: Prometo.

As duas se abraçam.

SALA DE INVESTIGAÇÃO – INT./DIA

Aaron, Greg e Will estão lá. June e April entram.

JUNE: Desculpem a demora.

GREG: Tudo bem.

Elas se sentam. Greg e Will se sentam. Aaron segura na sua mão direita um saquinho plástico retirado do corte de Suelen. Na sala ainda há uma câmera filmando. Todos usam luvas.

AARON: Para que fique registrado, a evidência foi analisada minuciosamente pelo departamento de análise terrorista e nada que possa ferir, matar ou comprometer algum ser humano foi identificado. Assim, a evidência foi liberada para análise e assim, dar prosseguimento no andamento da investigação. Todos de acordo?

TODOS: Sim.

AARON: Certo. Vou abrir a evidência.

Com um canivete, Aaron rompe o lacre do saquinho plástico preto. Ele vira o saco com o orifício virado para a mesa e um pedaço de papel retangular cai sobre a mesa. Todos se entreolham. Aaron pega o papel e o abre.

CLOSE NO PAPEL: 3X2

WILL: Três vezes dois?

APRIL: Que diabos é isso?

GREG: Mas...

JUNE: O maldito quer brincar conosco. Ele plantou isso por pura brincadeira. Não deve significar nada.

AARON: Seis?

JUNE: Mesmo que signifique seis. E daí? Não nos leva a nada.

APRIL: Ele não vai nos querer levar até ele.

JUNE: É por isso que ele fez isso. Fez isso tudo para nada.

A porta se abre e um Homem entra. Greg fica de pé.

GREG: Senhor Jack.

JACK: Como andam as investigações da morte de minha filha?

June se levanta.

JUNE: O senhor sabe tanto quanto eu que sua presença nesta sala é proibida.

JACK: Não estou aqui como parente. Estou como comandante-em-chefe.

JUNE: O senhor acabou de perguntar pelo andamento das investigações de sua filha. E pra que fique registrado nesta câmera. Sim, o senhor está como parente. Peço que se retire desta sala.

JACK: Com quem acha que está falando?

JUNE: Com o pai de Suelen Rosenbauer. Caso resista em sair terei que pedir sua prisão por obstrução de investigação e desacato a força policial.

GREG: June!

JACK: Gregory...

Greg o olha.

JACK: Tudo bem. Estou me retirando.

GREG: Conversamos depois, senhor Rosenbauer.

Jack sai da sala. June senta-se novamente.

GREG: June, se atrever-se a falar mais uma vez assim com esse homem você está perdida.

Greg sai da sala. Silêncio momentâneo.

AARON: Arrasou, June.

Todos sorriem.

SALA DE PERÍCIA DE EVIDÊNCIAS – INT./DIA

Música de Fundo: Yellow por Coldplay

June e April estão sentadas.

JUNE: Finalmente liberaram o celular da garota para analisarmos. A cada dia que passa eu acho que tudo está mais lento por aqui.

APRIL: Nem me diga.

June pega o celular. Ela liga.

JUNE: Na gravação que temos ela observa o celular antes de pular.

APRIL: Correto. Mas não atende, apenas olha.

JUNE: SMS?

APRIL: Provavelmente.

June vai até a caixa de entrada de mensagens.

JUNE: A última mensagem é da mãe dela. Diz: “Deixei lasanha no forno pra você. Te amo. Mamãe.”

APRIL: lembro bem que ela observou o celular e mexeu nele antes de pular.

JUNE: Acha que ela apagou?

APRIL: Sim. Talvez não quisesse que ninguém visse o conteúdo do texto.

JUNE: Precisamos do Will.

APRIL: Will?

JUNE: Ele é o rei da tecnologia.

APRIL: Antes de chamá-lo. Porque contou ao Aaron?

JUNE: Sobre?

APRIL: Sobre tudo.

JUNE: Ah! Aquilo? Não esquenta. O Aaron é seguro das coisas dele.

APRIL: Mas eu não queria que contasse.

JUNE: Desculpa.

APRIL: Tudo bem. Só queria esclarecer as coisas.

JUNE: Não foi por maldade.

APRIL: Sei que não.

June sorri.

APRIL: Vivemos nosso momento Serena e Blair.

JUNE: Quem?

APRIL: Serena e Blair? Não? Conhece?

JUNE: Você assiste muita televisão.

APRIL: Acho que sim.

Música Pára.

SALA DE WILL – INT./DIA

Will analisa o celular.

JUNE: Acha que tem como recuperar a mensagem deletada.

WILL: Não prometo, mas posso tentar.

APRIL: Quanto tempo?

WILL: Se for possível...

Will continua mexendo no celular com seus equipamentos.

WILL: Agora.

Will entrega o celular a June.

JUNE: Já? Menino gênio.

June beija o rosto de Will. Ela olha a caixa de entrada de mensagens novamente e agora a última mensagem parte de um número desconhecido. Ela acessa a mensagem.

JUNE(lendo): “Você já está conectada. É hora de cumprir sua missão. Do teu couro virá a libertação e do teu sangue a tua glória. O mundo está podre e juntos iremos purificá-lo. Agora você é mais uma peça desse filtro. Estamos orgulhosos.”

WILL: Que coisa macabra.

APRIL: Horroroso.

JUNE: Acho que estamos lidando com um psicopata.

APRIL: Mais uma peça desse filtro.

WILL: Acha que tiveram mais?

APRIL: Definitivamente ela não foi a primeira.

JUNE: Estamos lidando com um serial.

Eles se entreolham.

SALA DE ARQUIVOS DO O.P.D. - INT./DIA

April e June reviram os arquivos da ala de suicídio.

APRIL: E as últimas ligações do celular?

JUNE: Ela as apagou também. O Will disse que dá para recuperar, mas leva um pouco mais de tempo.

APRIL: Achei alguma coisa.

April e June observam um arquivo.

APRIL(lendo): Ivan Zjeveko. Causa da morte: Suicídio. Nenhum indício de homicídio encontrado. Evidências: Nenhuma evidência de homicídio. Depoimentos: Amigos disseram que Ivan falou em filtrar o mundo pouco antes de cometer suicídio.

JUNE(lendo): Cristina Miranda. Causa da morte: Suicídio. Nenhum indício de homicídio encontrado. Evidências: Nenhuma evidência de homicídio. Depoimentos: Irmã de Cristina apontou o fato de Cristina afirmar está em processo de purificação e esta purificação contribuiria para despoluir o mundo.

APRIL(lendo): Leda Zimer. Causa da morte: Suicídio. Nenhum indício de homicídio encontrado. Evidências: Leda gravou em fita uma confissão de suicídio e disse que pretendia com esse ato alertar a todos sobre a maçã podre que o mundo virou e que todos deviam seguir os passos da purificação.

JUNE: Estávamos tratando os homicídios como suicídios. Todos foram parte do plano diabólico desse assassino em série.

APRIL: Nenhum deles aponta os cortes ou as pistas.

JUNE: Talvez por isso ele iniciou esse processo. Isso! Ele percebeu que não estava conseguindo atenção e fez isso. Conseguiu nossa atenção.

APRIL: E conseguiu a atenção da imprensa ao recrutar para sua seita a filha do comandante-em-chefe do departamento.

JUNE: Estamos lidando com um homem inteligente e frio.

O celular de June toca. Ela atende.

JUNE(no celular): June. Oi Will. (breve pausa) Estamos indo.

APRIL: Que houve?

JUNE: Ele já tem as últimas ligações.

SALA DE WILL – INT./DIA

June e April entram. Will entrega o celular a June.

WILL: Consegui recuperar apenas a última ligação recebida. Nenhuma mais. O chip se danificou com a queda. Não consegui recuperar as ligações feitas.

June olha a última ligação recebida.

DISPLAY DO CELULAR: Papai.

JUNE: Falou com o pai minutos antes.

WILL: Eu consegui mais. Através do chip do celular, eu consegui descriptografar as chamadas em áudio.

JUNE: Fala nossa língua.

WILL: Desculpa. Consegui o áudio da conversa.

JUNE: Jura?

WILL: Sim!

JUNE: É por isso que te amo.

Will sorri. Ele põe a gravação.

SUELEN(na gravação): Oi? Sou eu.

JACK(na gravação): Ta vadiando?

SUELEN(na gravação): Não.

JACK(na gravação): Pensa que eu não sei que você fica saindo com esses malandros idiotas e se drogando por aí! Volta já para casa!

SUELEN(na gravação): Eu já disse que não. Pode deixar. Eu já estou indo.

JACK(na gravação): Suelen! Suelen! Se eu souber que você anda me traindo você vai se ver comigo. Eu te dou uma surra. Você sabe que você é minha.

SUELEN(na gravação): Você não quer discutir agora.

JACK(na gravação): Com quem você está? Heim!?

SUELEN(na gravação): Estou com umas amigas na boate.

JACK(na gravação): Pois vem já para casa! É uma ordem!

SUELEN(na gravação): Tá. Já disse que estou indo. Não precisa gritar.

JACK(na gravação): Grito o tanto que quiser! Até me obedecer!

SUELEN(na gravação): Vai continuar gritando?

JACK(na gravação): Suelen! Não me tira do sério! Você...

Ligação é desfeita.

June e April ficam boquiabertas.

APRIL: Você ouviu isso?

JUNE: O pai mantinha uma relação de amante com a filha.

APRIL: Estou chocada.

WILL: Tem mais.

Will coloca a segunda parte.

SUELEN(na gravação): Oi.

JACK(na gravação): Você desligou na minha cara sua vadia! Piranha desgraçada! Vou te matar se fizer isso! Vem para casa! Agora!

SUELEN(na gravação): Já disse que estou indo. Coisa chata.

JACK(na gravação): Eu...

Ligação é desfeita.

WILL: Então...

Quando Will percebe ele já está sozinho na sala.

WILL: Ué...

SALA DE GREG NA O.P.D. - INT./DIA

Greg e Jack conversam.

GREG: Sei que é duro para você, mas sabe que não pode se envolver.

JACK: Eu sei. Só quero acompanhar as investigações. Quero saber o que houve com meu bebê. Minha filhinha.

Jack começa a chorar. Greg o conforta. A porta se abre subitamente e June e April entram.

GREG: O que há com vocês? Não sabem bater?

JUNE: Ele está chorando?

GREG: Não percebe?

JUNE: Poupe-nos do seu showzinho barato, Jack.

GREG: June!

JACK(chorando): O que está dizendo?

APRIL: Já sabemos de tudo!

GREG: Tudo o que?

JUNE: Sabemos que Jack Rosenbauer mantinha secretamente a sua filha de dezessete anos como amante e prostituta particular.

Jack pula furioso da cadeira.

JACK: Como se atreve!?

GREG: June, você já foi longe demais!

JUNE: Ouvimos a conversa que ela teve com você pouco antes de morrer.

JACK: Não é verdade.

JUNE: Não, Jack? Porque? Apagou as ligações? Apagou para que víssemos que não tinha nenhuma ligação e acharmos que ela era solitária? Ela tinha dezessete. Era uma menina linda. Sempre recebe ligações!

JACK: Não sei o que está falando.

JUNE: Sabe muito bem. Sabe muito bem que aproveitou sua autoridade. Seu título pomposo de comandante-em-chefe do departamento policial do estado de Oklahoma para ter acesso as evidências. Mexeu sem autorização nas provas e apagou os números das chamadas recebidas.

JACK: Não tem provas.

JUNE: Talvez não. Que você apagou? Não tenho mesmo. Mas tenho provas suficientes de que mantinha relações sexuais com sua filha. Sua filha menor de idade.

JACK: Não pode provar nada.

GREG: Jack...

JUNE: Não?

June aperta o play em seu celular no qual ela mesma gravou as ligações.

JACK(na gravação): Pensa que eu não sei que você fica saindo com esses malandros idiotas e se drogando por aí! Volta já para casa!

SUELEN(na gravação): Eu já disse que não. Pode deixar. Eu já estou indo.

JACK(na gravação): Suelen! Suelen! Se eu souber que você anda me traindo você vai se ver comigo. Eu te dou uma surra. Você sabe que você é minha.

SUELEN(na gravação): Você não quer discutir agora.

June pára a gravação.

Greg fica chocado.

JACK: Tudo forjado. Montado.

JUNE: Tem mais.

June aperta o play.

SUELEN(na gravação): Oi.

JACK(na gravação): Você desligou na minha cara sua vadia! Piranha desgraçada! Vou te matar se fizer isso! Vem para casa! Agora!

June pára a gravação.

GREG: Você a matou?

JACK: Não. Mentira. Tudo armado.

APRIL: Não tente mais negar, senhor Rosenbauer. Acabou.

JACK: Se tentarem me incriminar tornarei a vida de vocês nesse departamento um inferno.

June caminha lentamente até Jack.

JUNE: Não se antes eu tornar a sua vida um inferno.

June tira as algemas da cintura.

JUNE: Está preso.

Jack empurra June com força. Ela cai sobre April e as duas caem no chão. Jack corre para fora da sala. Greg empunha sua arma e corre atrás dele. June e April se levantam depressa e correm também.

Pelos corredores do Departamento Policial, Jack corre empurrando tudo e todos que cruzam seu caminho. Greg está logo atrás.

GREG: Parado! Parado!

Jack puxa uma arma da cintura e atira em Greg. Greg se joga no chão e o tiro não o acerta. June e April mantém os passos e passam Greg.

GREG: Peguem o cretino!

Jack corre disparado. Ele avista a saída. A porta está aberta. June vem logo atrás. Ela empunha sua arma.

JUNE: É melhor parar!

Jack não pára.

JUNE: Avisei só por descargo de consciência.

June atira. Ela acerta a perna de Jack que cai gemendo de dor. A arma de Jack rola para longe dali. June e April o alcançam. June, com rispidez, segura Jack pela gola da camisa e o ergue. Ela o algema.

JUNE: Como disse antes, você está preso por estupro, violação de evidência policial e pedofilia.

Dois policiais que estão próximos levam Jack. April alcança June.

APRIL: Preciso entrar em forma.

JUNE: Precisa mesmo.

APRIL: E a acusação de homicídio?

JUNE: Ele não matou a garota..

APRIL: O que?

JUNE: Eu sei que não. O assassino ainda está aí fora e eu farei de tudo para capturar o maldito.

April e June vão abraçadas na direção de Greg.

IMAGEM ESCURECE

Algumas horas depois.

IMAGEM REABRE

BAR - INT./NOITE

Música de Fundo: Give a Lil Love por Bob Sinclair

April, June, Will, Aaron e Greg estão em bar. Há bastante gente no local.

APRIL: Dia longo, não?

AARON: Vai se acostumando novata.

GREG: Sinto que faremos uma ótima equipe.

JUNE: Vocês viram? Saiu já na edição noturna do jornal da cidade.

June mostra o jornal com manchete: “Garota de 17 anos comete suicídio, mas polícia suspeita de homicídio.”

Sub-título: “Garota teria afirmado estar participando da purificação do mundo”

APRIL: Que horror.

JUNE: Agora chega de trabalho.

WILL: Foi um grande dia.

AARON: E ele vai se tornar maior ainda.

Todos param e olham para Aaron. Ele tira do casaco um porta jóia pequeno. Ele olha fundo nos olhos de Will.

AARON: Sei que não sou muito bom nisso e nem pretendo enrolar muito, mas sei de algo muito importante. Que você é a pessoa mais importante da minha vida.

Aaron abre o porta jóia e dentro há uma aliança.

AARON: Will Benjamin, quer se casar comigo?

Will se emociona.

WILL: Sim.

Greg, April e June os aplaudem. Will e Aaron se abraçam. Aaron põe a aliança no dedo de Will.

JUNE: Parabéns, meninos.

WILL: Obrigado.

APRIL: Deixa eu ver.

Will mostra orgulhoso a aliança para April.

APRIL: É linda.

JUNE: Vocês viram o chefe? Se jogou no chão que nem uma rã!

GREG: Espera lá!

AARON: Logo ele que só quer ser o Kojac!

Todos gargalham. A Câmera vai se afastando mostrando o clima de confraternização deles até sair do bar.

LUGAR DESCONHECIDO – INT./NOITE

Um local pouco iluminado. Muita bagunça. Caixas e lixo para todo lado. Uma pequena escrivaninha com uma luz de abajur estão num canto. Uma Pessoa (não é possível identificar o sexo) senta-se na cadeira à escrivaninha. A pessoa abre um jornal e lá está a manchete: “Garota de 17 anos comete suicídio, mas polícia suspeita de homicídio.”

Sub-título: “Garota teria afirmado estar participando da purificação do mundo”

A pessoa fecha o jornal. A pessoa se levanta e vai até um painel. Neste painel há fotos. Todas estão marcadas com um X, exceto a de Suelen. A pessoa pega um marca texto e marca um X na foto de Suelen.

IMAGEM ESCURECE

Música Pára.

Escrito, Criado e Dirigido por

Junior Maia